segunda-feira, 6 de abril de 2009

Não basta querer ser Jornalista

Um dos mais belos aprendizados que tive na universidade, principalmente por causa da minha profissão de jornalista, foi o de não discriminar pessoas diferentes de mim. Foi ai, então, que entendi o real significado de Igualdade: o respeito pelas diferenças. Não sou melhor nem pior pelo que visto ou pelo que ouço. Não sou melhor nem pior por ser mulher. Não sou melhor nem pior por ser heterossexual. Não sou melhor nem pior por ser branca, nem por ser católica.

Fico indignada quando vejo um futuro profissional da comunicação dizer “música eletrônica não é cultura”. E o que é cultura, então? E me pergunto, será que ele sabe que existem várias definições de cultura e que não existe uma definição certa? Será que ele sabe que existe a cultura dita local, a global, a popular, a de massa? De que está servindo o curso de graduação? Apenas para torná-lo apto a trabalhar na área?

Sempre acreditei e acredito que o conhecimento de mundo abre as portas para as oportunidades e nenhum jornal, por exemplo, vai querer contratar alguém de visão superficial e preconceituosa. Hoje, a mídia combate a discriminação, mesmo que por ser moda combatê-la. Então nem na moda este futuro jornalista está.

Somos o que escrevemos. Somos o que pensamos. O que somos no dia-a-dia é o que escrevemos aos leitores e o que falamos aos telespectadores. Não adianta. Não dá pra fingir ser politicamente correto no trabalho e não ser na vida em sociedade.

Lembro-me de quando entrei na universidade, em 2004, e participava de todos os encontros e congressos do meu curso de Comunicação Social. Neles se ouvia e se dançava muito reggae. E eu não gostava. Quando tocava, eu simplesmente parava de dançar e ficava chateada. Mas de tanto conviver com aquilo aprendi a me divertir assim mesmo, e hoje o reggae é um dos meus estilos favoritos. Aprendi também que somos passíveis de mudanças. E mudar positivamente faz um bem enorme. Principalmente, quando se muda para conviver melhor com as pessoas. E confesso que não há nada melhor do que conviver com diferentes personalidades, diferentes gostos. A gente cresce com as diferenças.

Tai, eu não me identifico com o funk. Mas também não digo que quem gosta é um “não culturado” ou que não tem valor. Por que eu pensaria assim? Porque o ritmo faz rebolar? O reggae também faz. Porque as letras tratam a mulherada com discriminação? O reggae faz apologia às drogas. Até nisso discrimino pensando assim, porque nem todo funk tem letras discriminatórias e nem todo reggae é de “maconheiro”. Aprendi a respeitar as tribos urbanas. E me orgulho de ter amigos gays, negros, judeus, evangélicos, umbandistas, ricos, pobres, pardos, magros, gordos, homens, mulheres, mais velhos, mais novos, portadores de necessidades especiais, e, eu os respeito igualmente. Sinto-me engrandecida por tê-los em minha volta.

Não posso fugir da realidade. Os diversos estilos, as diversas pessoas estão o tempo todo em nossa volta. E temos que respeitar isso. Em Juruti, por exemplo, as pessoas, mais especificamente, os jovens, curtem muita música eletrônica. Isso é um fato! E eu jamais vou dizer que eles não têm cultura porque não ouvem 100%, do seu dia-a-dia, músicas de tribo. Lembro-me de quando essa mesma pessoa preconceituosa me falou que odiava carimbó porque não era de Juruti. Nossa, fiquei horrorizada, porque eu, como amante de carimbó, simplesmente me apaixonei pela cultura das tribos e hoje o meu rol de estilos ganhou mais um participante. Eu sou até suspeita pra falar, porque amo tudo que vem da Amazônia. Mas ter em meu coração o carimbó e a as tribos batucando juntas me dão prazer de viver e orgulho de morar neste estado maravilhoso, e nesta cidade encantadora.

Infelizmente nem todos pensam como eu, ou pelo menos tiveram a oportunidade de aprender o que aprendi para o meu bem estar social e humano. E, aliás, nem posso exigir isso. Seria contraditório. Até o respeito por achar que nada presta além do seu próprio gosto. Mas uma coisa é certa: para um futuro comunicólogo fica feio tamanha irresponsabilidade. Creio que deveria estudar mais antes de executar uma tarefa desafiadora, que é o jornalismo, sem ao menos saber o que é ética e para que serve a profissão que escolheu.







sábado, 14 de março de 2009

Dividir ou Não Dividir o Pará? Essa, definitivamente, não é a Questão...

A Associação Comercial e Empresarial de Juruti (ACEJ) promoveu, no dia 12 de março, às 20h, no Salão Dom Bosco, uma palestra para os seus associados sobre a criação de um novo estado: o Estado do Tapajós, que abrange os 25 municípios da Região Oeste paraense.
Os palestrantes José de Lima Pereira e o coordenador do Comitê de luta pela criação do Tapajós, Orlando Lima, apresentaram argumentos, sob os pontos de vista econômico e social, favoráveis à divisão do Pará.
Um, como economista, divulgou dados técnicos que provam a viabilidade de um desenvolvimento político e econômico para a região, ou seja, o novo estado terá total capacidade de se auto-sustentar. E ainda citou que a divisão facilitará a vigilância das fronteiras no combate à biopirataria. E defendeu o município de Santarém como a possível capital do Tapajós. Enquanto que o outro, um ativo militante, explanou sobre as questões sociais. A região terá mais investimentos na saúde, na educação, logo, além de desenvolvimento político e econômico, o projeto proporcionará o desenvolvimento social, que é o dá sentido à criação do estado do Tapajós. Esse Projeto está tramitando em Brasília desde 2001, à espera da aprovação pela Plenária da Câmara Federal.
E os dois defensores do Projeto afirmaram que o principal fator que gera esse sentimento de emancipação política é a falta do poder público nessas áreas afastadas da capital, Belém. E afirmou que é inviável administrar estados grandes como Pará e Amazonas.
Compararam ao processo de criação do estado do Tocantins, em 1989, no qual o economista José de Lima Pereira fez parte. E disse que a região que hoje é Tocantins, estava totalmente abandonada pelo estado de Goiás, e cinco anos após a emancipação política, já se desenvolveu e hoje consegue caminhar com as próprias pernas. Além de ser um estado referência da região Norte. E garantiu que a força política para a Amazônia será mais eficiente em Brasília, com o aumento do número de Deputados Estaduais, Federais e Senadores do Norte Brasileiro.
Esse foi o fato que me levou a repensar sobre essa questão da divisão do Pará. A primeira vez que eu tive contato com o tema foi no meu ensino médio, em 2001, 2002. E naquele momento o sentimentalismo falou mais alto, e devo crer que, meus professores e pessoas ao meu redor, que já tinham opinião formada sobre o assunto, fizeram-me ser contra o “separatismo”. E depois de alguns anos me deparei novamente com o tema e fui forçada a pensar sobre essa questão, primeiro pela minha profissão de jornalista e segundo pela cidadã que tem como viés de sua formação intelectual, a Amazônia. E hoje, meu debate foge ao apelo sentimental tanto de quem é contra e de quem é a favor do estado do Tapajós quanto dos dados técnicos fornecidos por economistas e outros estudiosos do assunto. Meu debate gira em torno de algo mais amplo: o contexto.
Creio que não devemos analisar o Pará isoladamente. Vivemos num contexto político, econômico e social e não podemos simplesmente deixar de fora e de incluir na discussão. Observar o contexto é achar explicações fundáveis para todos os problemas sociais que não só a região oeste passa, mas também a Amazônia como um todo.
O "pai" de todo esse abandono mencionado na palestra e aclamado pelo povo que sofre na pele os descasos do poder público é o sistema capitalista. Não vou explicar como ele faz isso, mas cito apenas uma das suas principais características, se não for a principal desse sistema: a desigualdade. O capitalismo se mantém pela exploração. Portanto, para a existência do sistema é imprescindível ter um explorado e um explorador. Já vivemos num continente explorado: Sul-americano, explorado por todos os outros que estão no Norte, com exceção da América Central, que faz parte do rol dos sulistas. O Brasil é um país forte, economicamente, à frente de seus vizinhos Argentina, Bolívia, Equador, entre outros. Mas dentro do próprio Brasil, há as desigualdades entre as regiões. E a mais abandonada é sem dúvida a Região Norte. Imagine. Dentro do nosso país, já somos periferia, o que nos torna periferia da periferia por vivermos num interior. As capitais exploram seus interiores e deles se beneficiam, porque alguém tem que se beneficiar e outro tem que se prejudicar. É essa é a ideologia.
Sabemos também que, historicamente, as regiões brasileiras têm suas funções definidas. Centro-Sul é a parte industrializada, Nordeste é fornecedor de mão-de-obra e Norte, fornecedores de recursos naturais e minerais. Por que a Alcoa, em Juruti, por exemplo tem seus fornecedores, em sua grande maioria, de fora? Porque a função de Juruti e dos estados nortistas é de matéria-prima, nossa função não é industrial. Nossa função não é de produzir produtos industrializados. Por mais que hajam SEBRAE, SENAI, PDF, que almejam o desenvolvimento tecnológico e industrial da região. A Amazônia brasileira é puramente fauna e flora, diante do imaginário brasileiro. Desenvolvimento tecnológico na Amazônia desmistifica. O exótico é que faz a Amazônia ser o que ela é para nós e para o mundo.
Então, eu me pergunto, será que o estado do Tapajós não será mais um estado periférico do Brasil? Será que sozinho ele vai se desenvolver e ganhar o mundo? Belém não conseguiu. Manaus não conseguiu. Será que não é tempo de nos unirmos e não de separarmos para lutar por um reconhecimento coletivo? A separação não vai fazer a região oeste olhar somente para o próprio umbigo?
Do ponto de vista administrativo eu concordo 100% que é melhor administrar um estado pequeno. Na teoria, a intenção é ótima. Mas o mundo está cheio de boas intenções e nada muda, só fica no discurso. E olha que administração é que dá rumo ao progresso ou ao regresso e o Brasil está cheio de oportunistas. Que riscos corremos em transformar o oeste paraense em mais uma oligarquia, em mais estado de conflitos agrários, em mais um estado maltratado? Não esqueçam, as mineradoras não são confiáveis! Elas não estão em Juruti, Trombetas, Parauapebas, para melhorar a vida do povo, elas estão por lucro!
Orlando Lima mencionou na palestra que a região é diferente geograficamente de outras regiões, principalmente no Pará. Mas aos olhos de quem nos rege, o governo federal, sistema mundial, somos desiguais porque somos ribeirinhos, porque nossas ruas são os rios. E para sermos postos num patamar elevado de Desenvolvido, temos que nos inserir na tecnologia, e a tecnologia não permite rios, canoas, malhadeiras, floresta, animais. Preservem a Amazônia! É preservar o imaginário selvagem e indígena que o povo amazônida é na cabeça dos brasileiros e dos cidadãos-mundos.
O interior sempre será visto como atrasado perante os “capitalenses”, enquanto o que diferenciar um local de outro for a tecnologia informacional. E a grande massa vai continuar não querendo sair do “seu bem e bom” para viver, por exemplo, em Juruti, um interior “que não tem nada”. E por isso vão faltar médicos, professores, jornalistas, publicitários, advogados, contadores. Enquanto a mentalidade não mudar, fica inviável pôr em prática os projetos de emancipação política de quem quer que seja. Os políticos serão os mesmo, os interesses serão os mesmos, e é hipocrisia afirmar que não existe interesse político no meio. O capitalismo sobrevive de interesses. E não tem aquele que me convença de que com o estado do Tapajós será diferente, porque não será. A não ser que ele queira se separar do Brasil também, e fazer parte da lista dos abominados do mundo, por exemplo, Cuba.
De repente, essa medida de criação do novo estado possa ser uma política de emergência como acontece com o sistema de cotas em universidades públicas de ensino superior. Entretanto, o problema da educação brasileira continua. Nem todos têm o direito à educação pública e de qualidade como menciona a lei. A educação superior ainda é privilégio de poucos. Então, separa-se, mas o problema do subdesenvolvimento, de periferia, de descaso vai continuar.
Portanto, dividir ou não dividir o Pará, definitivamente não é a questão.